terça-feira, 27 de julho de 2010

A mulher maravilha, onde???


Sempre tive por perto várias revistas femininas diferentes, com as mais variadas linhas editoriais. A depender da publicação, é claro que toda regra tem sua exceção, muito raramente encontro coisas interessantes nelas. Acabo lendo algumas matérias como que movida por uma curiosidade antropológica, a fim de descobrir qual o grande achado da vez. A decepção é recorrente. Estas revistas não mudam. E explico.
Minha relação com este tipo de publicação começou tardiamente, enquanto as meninas da escola já tinham suas enormes coleções, eu estava comprando a minha primeira. Até gostava, mas não entendia o motivo daquela paixão toda por aquele conjunto de folhas coloridas e cheias de fofuritchas para adolescentes.
Em primeiro lugar, como acontece até hoje, eu não me via naquelas revistas. Meu cabelo não estava lá, minha cor de pele não estava lá, meu nariz não estava lá, minha origem não estava lá. Comecei a entender o motivo de tanta identificação das coleguinhas de classe. O tempo foi passando e eu abandonei as revistas , cansei delas, não me atendia mais. Cresci.
Mudei de foco, de publicação, mas minhas características continuavam a não ser retratadas. Mantive minha postura crítica mas dei uma chance a elas me voltando para as matérias mais consistentes, históricas ou comportamentais. Só que aí também há problemas. Por trás de todo aquele verniz de revista voltada para a mulher moderna, a meu ver, todas elas reforçam o estereótipo da mulher que faz de tudo, mas tudo mesmo, para agradar o homem.
Se não, vejamos. As matérias sobre sexo são o exemplo mais notório. O foco do prazer é o homem. Ali, em várias páginas, a mulher é orientada sobre como ter a melhor performance na cama com seu par. Como fazer um bom sexo oral “para levar seu amor às alturas”, que lingerie usar porque “seu homem vai amar”, como se manter magra “os homens que gostam de gordinhas são exceções”.
No trabalho, no cuidado dos filhos, a linha é a mesma. Nenhuma delas se arvora a incitar a mulher a virar a mesa da tripla, quádrupla ou quíntupla jornada do trabalho – “a mulher hoje tem que equilibrar diversas funções, então já me acostumei com a culpa de ter que ficar menos com os filhos”. O homem é aquele que é chamado a “ajudar” nas tarefas ao invés de ser estimulado a “compartilhar” as atividades. É aquele ser a quem se deve prestar todas as homenagens. Grávida? De mal humor? Cheia de hormônios enlouquecendo o juízo? “Se esforce para não deixar a chama do casamento apagar”.
Então, onde está a modernidade? Que mulher é essa que as revistas querem incutir na mente de todas nós? A super mulher maravilha? A que faz de tudo no trabalho, em casa, na cama, na família, exerce múltiplas funções, mas não pode mesmo esquecer de servir ao maridão que, afinal de contas, é a razão e objetivo de vida de todas as mulheres… Será mesmo?

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